Impacto da COVID-19 nas cidades fronteiriças do MERCOSUL: comércio e turismo afetados

29 nov

Impacto da COVID-19 nas cidades fronteiriças do MERCOSUL: comércio e turismo afetados

Análise completa na publicação “Impacto do Covid-19 nas fronteiras do MERCOSUL e prospecção de cenários em matéria de meios de vida para as juventudes”

 

Ao longo da história, as áreas coloniais de fronteira e, a partir do século XIX as nacionais, caracterizaram-se por interações comerciais e sociais. Nessa perspectiva, as áreas de fronteira têm sido espaços de intercâmbio e interface entre as diferentes realidades regionais e nacionais. 

Pode-se dizer que a área de fronteira do MERCOSUL se estrutura em torno de três eixos principais: comércio, turismo e hidrelétricas. Neste sentido, em seis das oito cidades estudadas no projeto “Juventudes e Fronteiras no MERCOSUL”, a relevância das hidrelétricas tem sido determinante na configuração urbana.

O comércio fronteiriço também é extremamente importante e antecede o MERCOSUL. Serve de instrumento complementar na ausência de oferta de um bem ou produto ou na busca por um preço mais competitivo em face das diferenças de câmbio. O intenso fluxo comercial também impacta as relações de trabalho, marcados por pouca formalidade.

Informalidade

De acordo com dados disponíveis no estudo “Impacto da Covid-19 nas fronteiras do MERCOSUL e prospecção de cenários em termos de subsistência dos jovens”, publicado pelo Instituto Social do MERCOSUL e Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), apesar dos avanços normativos e crescimento econômico experimentado por vários países, a redução da informalidade não acompanhou o período de expansão. É o caso do Paraguai, que, mesmo pertencendo ao grupo dos países de renda média alta, tem uma informalidade no emprego superior a 70%, enquanto o Brasil, da mesma faixa de renda, possui apenas 36% dos seus empregos na categoria informal.

 

A contração econômica afetou, paradoxalmente, os países com maiores níveis de formalidade trabalhista. A variação interanual da taxa de informalidade entre o primeiro e o segundo trimestres de 2020 foi muito elevada para mercados de trabalho com maiores índices de formalidade, como a Argentina, que passou de 0,8% para -10,7%, ou seja, uma queda de quase 10 pontos percentuais. Por sua vez, o Paraguai, cujo mercado de trabalho é extremamente informal, passou de -0,1% para apenas -1,15%, ou seja, um ponto percentual. 

 

Impacto geral por par de cidades

Uma análise mais detalhada permite ver que existem diferenças importantes e estruturais nas chamadas cidades gêmeas: diferenças de tamanho, população, função e economia. Essas diferenças também serviram para proteger a economia local ou intensificar as relações de dependência durante a pandemia COVID-19. Esses elementos serão analisados em detalhe nas próximas notas e estão disponíveis no estudo.

Foz do Iguaçu – Ciudad del Este 

O fechamento das fronteiras em março de 2020 representou um forte golpe para o comércio formal e principalmente informal, bem como ao nível dos serviços turísticos, incluindo o turismo comercial. Tanto o comércio como o turismo são setores em que os e as jovens estão, em maior medida, empregados. O impacto da Covid-19 afetou Foz do Iguaçu por meio de dois canais principais: a redução abrupta da atividade turística, mesmo sem o governo brasileiro ter limitado a mobilidade de sua população e, em segundo lugar, pela limitação das atividades comerciais com Ciudad del Este. 

 

Encarnacion – Posadas 

O impacto da Covid-19 foi diferente para as duas cidades. Por um lado, em Encarnación os efeitos foram significativamente negativos: além do comércio, foram afetadas as atividades turísticas, tanto na praia como no famoso carnaval e na exploração das reduções jesuítas. Posadas apresentou uma reação muito diferente das demais cidades com relação ao coronavírus, pois a pandemia produziu a maior reativação econômica da Argentina com todos os indicadores de atividade econômica positivos, acima da inflação e acima da atividade registrada antes da pandemia, devido ao aumento significativo nas vendas dos negócios daquela cidade a partir do fechamento da fronteira, com base em dados do jornal La Nación Argentina.

 

Salto- Concordia

Com o fechamento das fronteiras e a impossibilidade de fazer compras na cidade vizinha, as lojas de Salto tiveram um aumento nas vendas, uma vez que a demanda não pôde ser atendida com os produtos de Concordia. Nesta perspectiva, as restrições à mobilidade das pessoas tiveram um impacto positivo no dinamismo comercial de Salto, enquanto em Concordia ocorreu o fenómeno oposto. No entanto, o contraponto para a população da cidade de Salto, que comprando alimentos economizou bastante, foi o aumento do custo da cesta básica, porque comprou no Uruguai a preços mais elevados. Estudos da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços de Concordia indicam que 70,5% das empresas reduziram suas vendas em relação ao mesmo período antes da pandemia. De fato, a redução da demanda dos compradores uruguaios afetou o comércio e o emprego nesta cidade.

 

O setor do turismo, tanto em Salto como em Concordia, foi fortemente afetado pelo cancelamento e interrupção de todas as atividades, especialmente as relacionadas com a hotelaria que explora as águas termais.

 

Rivera – Santana do Livramento

O principal efeito da pandemia na economia tem sido a proibição, pelo Brasil, da chegada de ônibus de outras cidades com compradores, afetando diretamente o setor comercial de Santana do Livramento e Rivera. Uma particularidade do impacto da Covid-19 nestas cidades é que os residentes de Rivera continuaram a “deslocar-se” a Santana do Livramento para fazer compras, ao contrário das outras cidades analisadas, onde as pontes também significavam postos de saúde e de imigração. A conurbação deste par de cidades fronteiriças demonstrou que a gestão de desafios conjuntos pode ser abordada, desenhada e implementada numa escala transfronteiriça, pois é esta que tenta resolver os problemas e necessidades da população. 

 

Em 18 de março de 2020, a Câmara Uruguaia de Free Shops resolveu adotar as medidas sanitárias do governo uruguaio solicitando a seus associados o fechamento de suas lojas para proteger a saúde de funcionários e clientes. Embora essas medidas fossem necessárias, elas geraram uma série de efeitos negativos na obtenção de renda devido à falta de turistas estrangeiros, predominantemente brasileiros.  Os free shop de fronteira do lado uruguaio já vêm de anos difíceis que afetaram muito sua economia e, além disso, sofreram a instalação do regime de free shops brasileiros.