30.9°S 55.5°O – As Juventudes de Santana do Livramento e Rivera

5 out

30.9°S 55.5°O – As Juventudes de Santana do Livramento e Rivera

As juventudes das cidades de Rivera, no Uruguai, e Santana do Livramento, no Brasil, compartilham muito mais do que antecedentes históricos, ruas, praças, binacionalismo nas famílias e um bilinguismo natural. Compartilham também serviços e infraestruturas de educação e saúde, além de desafios e oportunidades. Há uma forte sinergia entre as duas cidades, que se dividem a partir de linhas “imaginárias”, simbólicas. Uma análise de dados a partir de cada uma das cidades, entretanto, revela juventudes específicas, formadas a partir de políticas de Estado, cultura nacional e influência institucional.

 

Embora existam marcos que “separam” Rivera e Livramento, e mesmo linhas invisíveis, não há um elemento geográfico, como rio ou cerro, que divide as cidades e países. Há, por outro lado, bens públicos que as unem, como a Praça Internacional, um símbolo de convivência pacífica, compartilhada entre as duas cidades desde 1943. Mesmo durante a pandemia do COVID-19, o cruzamento não foi fechado, exigindo do poder público local e sociedade em geral acordos, protocolos e campanhas de saúde compartilhados.

 

As cidades vêm sendo acompanhadas no projeto “Juventudes e Fronteiras no MERCOSUL”, desenvolvido com o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA). O projeto em breve contará com equipes em território, articulando atividades com jovens e autoridades. Esta análise a respeito do impacto da COVID-19 na cidades já foi realizada e será publicada ainda nesta semana.

Em breve serão publicadas mais análises temáticas e transfronteiriças.

Dados

Parte dos dados é semelhante. Por exemplo, o quantitativo proporcional, de 24% em Santana do Livramento e 28% em Rivera, a proporcionalidade entre homens e mulheres, com predominância de mulheres (98,71 homens para cada 100 mulheres em Santana do Livramento e 99,33 homens para cada 100 mulheres em Rivera). A conexão de água em residências de chefes de lar jovens também é similar, assim como o porcentual de jovens e adolescentes que frequentam estabelecimentos educativos, em torno a 38,6% em Santana do Livramento e 41,6% em Rivera.

 

Diferenças
Os demais dados, entretanto, são distintos. Em torno à população, por exemplo, a composição étnico-racial difere: Dados de Santana do Livramento ressaltam a presença de 5,7% de população afrodescendente (negra, autoidentificada), e 13,3% em Rivera; Já para indígenas, seria 0,3% na cidade brasileira e 3% na cidade uruguaia.

 

Em relação à fecundidade, interessante observar os dados encontrados. A Taxa Global de Fecundidade para jovens de 15 a 19 anos em Santana do Livramento é de 1,65, enquanto para Rivera é de 2,12. A fecundidade adolescente tardia (de filhos vivos a cada mil mulheres adolescentes entre 15 e 19 anos) ficou em 38,3 para a cidade brasileira e 56,6 para a cidade uruguaia.

 

Quanto ao uso do tempo, os dados revelam que a cidade brasileira contempla proporções maiores de homens e mulheres que trabalham ou trabalham e estudam que a cidade vizinha, enquanto Rivera conta com maior proporção de jovens de 15 a 29 anos que só estudam ou que “nem estudam e nem trabalham”.

 

Os indicadores para o estado conjugal “divórcio/separação” para a população de mulheres jovens analisada também são bastante mais altos para Rivera (7,6%) que para Santana do Livramento (1,8%), em especial para mulheres entre 25 e 29 anos (16,9% em Rivera x 3% em Livramento). Para homens jovens de 15 a 29 anos, os indicadores são mais próximos (0,7% em Livramento e 1,9% em Rivera). O maior número de solteiros está em Santana do Livramento. Declaram-se solteiros na cidade brasileira 87,8% dos homens entre 15 e 29 anos e 80,7% das mulheres; em comparação, em Rivera são solteiros 76% de homens e 60,1% de mulheres. Os dados são pré-pandêmicos.

 

Outro dado que chama atenção é em relação à propriedade das moradias. Em Rivera, a maior parte dos chefes de lar jovens moram em residências cedidas ou ocupadas, 43,9%, mais do que em outras cidades analisadas na pesquisa. O indicador fica em 10,1% em Santana do Livramento. Os e as chefes de lar jovens de Livramento residem, em sua maior parte, em residências próprias, 53,3%, e alugadas, 36%; Já em Rivera, são 20,7% que residem em residências próprias e 35,4% em residências alugadas.

 

Também chama atenção as condições de vida relacionadas ao sistema de esgoto de estas residências chefiadas por jovens. Em Livramento 77,4% são vinculadas à rede e 21% a câmaras sépticas, enquanto em Rivera são 42,8% das residências que são vinculadas à rede e 53% a câmaras sépticas.

 

Outros dados e recorte por faixas etárias e gênero podem ser observados no site do projeto, em www.ismercosur.org/juventudes

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